Vamos falar sobre puxar?

Haverá imagem mais paradigmática do parto do que uma mulher a fazer respiração de cãozinho (uf uf uf), agarrada a alguma coisa ou a alguém, com toda uma claque a gritar “É agora! Faz força quando eu disser… 3,2,1, FOOOORÇA (ou PUUUUSH, se for numa série estrangeira)”. E a mulher berra e puxa desalmadamente, várias vezes, até puff, nascer o bebé?
Em quantos filmes, novelas, séries vimos esta cena? Quantas vezes vemos “imitar” o parto desta forma?

Mas a verdade é: isto NÃO É (ou não deveria ser) um cenário verdadeiro de parto!
NÃO É PRECISO, em circunstância alguma, fazer força a pedido, simular que estão a fazer 💩, fazer apneia respiratória,etc, porque façam (ou não) o que fizerem, o bebé vai nascer. Portanto, tudo o que façam para acelerar ou forçar esse momento não o vai fazer nascer mais rápido e pode, inclusive, provocar danos evitáveis (ex: laceração no períneo). E isto é válido em qualquer situação, mesmo quando optam por uma epidural e ela é dada incorretamente, levando a que percam a consciência do vosso corpo.
A imagem da claque a mandar-vos puxar depois do 1,2,3 tem um nome: chama-se puxo dirigido e é uma prática ultrapassada (manobra de Valsalva) desaconselhada pela OMS.
O puxo existe e é essencial para o nascimento do bebé. Mas ele ocorre de forma espontânea, natural e é o corpo que determina quando e com que intensidade. Portanto o ideal é entregarem-se ao momento e deixarem fluir. Como em quase tudo: o corpo sabe o que faz.

Mas e se os profissionais que me estão a acompanhar fizerem puxo dirigido ou me mandarem fazer força como se quisesse fazer 💩 ou respirações específicas o que devo fazer??

Seguem os meus conselhos de amiga:
– ignorem ou exijam silêncio
– Antes do parto combinem com o vosso acompanhante/doula que peçam silêncio caso isso aconteça
– Escrevam no vosso plano de parto que não pretendem puxos dirigidos
– Escolham uma equipa/ instituição com práticas humanizadas e baseadas em evidências

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